quarta-feira, 17 de outubro de 2007

odeio gostar

Eu odeio esperar a noite inteira e você não aparecer
Eu odeio pintar meu cabelo e você não reparar
Eu fico tentando te lembrar, mas parece que se esqueceu
De como é bom se apaixonar por ninguém menos que eu

Eu odeio gostar de você
Eu odeio gostar de você

Eu odeio deitar na sua cama e você nem se mexer
Eu odeio te contar o meu dia e você me ignorar
Eu queria que fosse um viciado pra ser sua heroína
E poder dizer "eu te amo" sem nenhuma ironia

Eu odeio gostar de você
Eu odeio gostar de você
Eu odeio gostar de você
Eu odeio gostar de você

Eu odeio esperar a noite inteira e você não aparecer
Eu odeio pintar meu cabelo e você não reparar
Eu fico tentando te lembrar, mas parece que se esqueceu
De como é bom se apaixonar por ninguém menos que eu

Eu
odeio gostar de você
Eu odeio gostar de você
Eu odeio
gostar de você
Eu odeio
gostar de você

CULPA E VAIDADEB

Culpa e vaidade

Mulher, por mais que tenha conquistado sua independência, seja dona de seu dinheiro e de seu nariz, está sempre com a cabeça em alguma coisa que a deixe bem culpada. A primeira, e mais elementar: os filhos. Não adianta eles estarem na mais maravilhosa creche, com a mais fantástica babá, nos braços da avó mais carinhosa, cuidados pelo amor do pai ou até casados, com filhos e a vida organizada. Mãe está sempre ligada; ligada e culpada.

Existem as que não têm filhos e que, mesmo concentradas no trabalho, se lembram de que a geladeira está vazia, que há duas semanas não telefonam para a mãe, que é preciso mandar fazer a bainha daquela saia e ir ao dermatologista - e a culpa continua. Na cabeça de um homem, essas coisas não passam - não quando eles estão trabalhando ou vendo um jogo de futebol pela TV. Eles conseguem se desligar e pensar só no que estão fazendo. As mulheres são diferentes.

Na vida profissional, por exemplo: os homens chegam tarde do escritório, trabalham no fim de semana, viajam pelo tempo que for preciso bem tranqüilos, porque sabem que a retaguarda em casa está coberta. Mesmo que às vezes fiquem um pouco impacientes, elas esperam; esperam e aproveitam para fazer um monte de coisas que, com um homem do lado, vão sempre ficando para depois. Emagrecer, por exemplo - não dá para fazer dieta com um homem por perto, ou relaxar o corpo e o espírito quando eles estão por ali, ocupando nossos corações e nossas mentes. Agora, dê o nome de dez grandes mulheres que tenham um marido que faça isso por elas. Não lembra? Tudo bem, então cinco. Também não lembrou? Não faz mal, a gente já sabia.

Mas tem uma hora em que a mulher consegue, sim, se esquecer de tudo: é quando vai se preparar para um encontro daqueles. Começando pelo banho, que leva horas. Depois, ainda enrolada na toalha, ela se permite ficar uns 20 minutos relaxando - e ai da emprega da que se atrever, nessa hora, a pedir dinheiro para comprar produtos de limpeza. Daí em diante, é uma lua-de-mel com ela mesma. Você já reparou alguma vez em uma mulher calçando meias, sem pressa? Ela acaricia as próprias pernas, certa de que são iguais às de Cyd Charisse*. Depois vêm os sapatos - de saltos altos, claro -, e aquela leve olhada no espelho para sentir o conjunto. Fica satisfeita e começa a botar a base, pintar os olhos, sem pensar em nada mais na vida, a não ser em ficar o mais linda possível. Aliás, toda mulher deve se pintar de meias e sapato alto: faz bem à moral.

Tudo é feito com o maior cuidado, e depois do toque final - o rímel -, é hora de separar as pestanas com um alfinete de ponta bem fina, para desgrudar uma da outra. Ah, é perigoso, pois pode machucar o olho? Claro que não: Deus sempre protege uma mulher que está se preparando para aquele encontro. Aí é a hora de cuidar dos cabelos, e a força e determinação com que ela maneja a escova são de dar medo a qual quer campeão de artes marciais. Depois, é se vestir - o vestido está escolhido há semanas -, se olhar várias vezes no espelho, arrumar a bolsa e escolher os brincos. Tente disfarçadamente observar uma mulher quando ela estiver diante do espelho dando o toque final, isto é, botando os brincos. É uma bobagem? É, mas é verdade: ela se examina uma última vez, e nessa hora se sente absolutamente segura, pronta para o que der e vier. Usando as palavras certas: pronta para o combate, e capaz de tudo pela vitória.

Cyd Charisse é atriz e dançarina de musicais dos anos 40 e 50, parceira de astros como Gene Kelly, com quem estrelou Cantando na Chuva (1952)

Danuza Leão é cronista, autora de vários livros, entre os quais Na Sala com Danuza 2 (ARX) e Quase Tudo (Cia. das Letras)